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Anorexia, Bulimia e Compulsão alimentar, por que e como identificar clinicamente

Anorexia, Bulimia e Compulsão Alimentar, por que e como identificar clinicamente

 

 

Dr. Daniel Magnoni

Cardiologista e Nutrologo

Chefe da Seção de Nutrição Clínica do Instituto Dante Pazanese de Cardiologia

Chefe do Serviço de Nutrologia e Nutrição Clínica do Hospital do Coração

Responsável pelo Serviço de Terapia Nutricional do Hospital Bandeirantes

Diretor do Instituto de Metabolismo e Nutrição - IMeN

 

As alterações nos padrões de alimentação tornaram-se uma rotina da prática diária em consultório de Nutrologia e Nutrição Clínica. Identificar já no primeiro momento de relação profissional de saúde / paciente, pode ser o diferencial entre o sucesso e a persistência do diagnóstico incompleto.

O dia a dia do consultório é permeado por divagações e certezas dos pacientes pela opção dietética mais eficaz e rápida na redução de peso. Sabemos hoje, que poderemos alcançar o sucesso de acordo com vários tipos de dieta, a permanência no peso adequado e a fidelização na dieta prescrita, dependem principalmente na mudança dos hábitos e estilo de vida. Diferentes dietas, variáveis na composição dos nutrientes, mostraram resultados satisfatórios, no entanto, o gasto metabólico relativo às funções metabólicas e o gasto relacionado á atividade física pode ser o grande diferencial (1)

Em adolescentes, principalmente meninas, a insatisfação com o próprio corpo pode desencadear distúrbios comportamentais como anorexia, bulimia e compulsão alimentar (2).

Essa constatação foi observada em estudo desenhado para controlar o excesso de peso em crianças e adolescentes (Planet Health). Nesse estudo, finalizado após dois anos de acompanhamento, com quase 1500 adolescentes de ambos os sexos, foi introduzido mudança nos hábitos nutricionais e aumento do gasto metabólico pela prática de atividade física. Dentre os critérios de inclusão, estava a ausência de distúrbios alimentares, no entanto, ao final do estudo, o sexo feminino, no grupo controle, apresentava 3 vezes mais distúrbios alimentares em relação ao grupo com mudanças de estilo de vida ( 3,6% versus 1,2%), demonstrando que a satisfação com o próprio corpo pode ser uma das chaves de controle desses transtornos (3).

A prática da atividade física, seja por meio de esporte, ginástica e musculação ou pela simples incorporação de caminhadas, corridas e exercícios, deve ser estimulada precocemente. O início do hábito de atividade física em idade mais avançada é um preditor de insucesso na permanência desse hábito ao longo dos anos, podendo atingir 2% de redução anual.(4)

O sobrepeso e a obesidade, podendo ser avaliado no dia a dia, na literatura científica ou na mídia geral, é uma doença de alta prevalência e com importante viés de alta nos próximos anos.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de 2002 e 2003, já indicava que pelo menos 40% dos brasileiros estavam acima do peso e 11% estavam obesos. Essa pesquisa avaliou indivíduos a partir dos 20 anos de idade e a medida antropométrica que constatou o estado nutricional foi baseada no índice de massa corporal (IMC). As diferenças quanto à obesidade e sobrepeso entre homens e mulheres, de uma maneira geral, não são significativas: sobrepeso em homens 41,1% e em mulheres 40,0%; já a obesidade em homens é de 8,9% e em mulheres é de 13,1%.(5)

Diferenciar nuances clínicas dos transtornos alimentares pode ser facilitado pela observação de algumas características particulares:

 

Anorexia:

- Recusa em manter o peso em níveis acima do mínimo adequado à idade e altura

- Preocupação exagerada com valor e total calórico.

- Evitar situações sociais que envolvam alimentação

- Redução constante de peso.

- Amenorréia em 3 ciclos menstruais consecutivos, sem outras patologias concomitantes.

 

Bulimia:

- Auto indução do vomito

- Uso abusivo de laxantes e diuréticos

- Prática excessiva de jejuns e exercícios

 

 

Compulsão:

- Incapacidade de cessar a ingestão de alimentos de forma adequada a padrões sociais e culturais.

- Ingestão periódica de grande quantidade de alimentos, diferencialmente à maioria das pessoas.

- Esconder alimentos para consumo posterior e/ou noturno

- Comer a noite, no intervalo do sono natural.

 

 

O consumo pode tornar-se progressivo, visto que o usuário necessita de aumento das doses, visando o mesmo efeito, pode apresentar ainda, sintomas de abstinência, como insônia, tremores agitação e alucinações.

A retirada das drogas deve ser trabalhada psicoativamente, evitando o uso e abuso de álcool, ou frustrações, em virtude do retorno do vício, após períodos de remissão. (6)

Desta forma, estimular práticas de atividade física, educação nutricional e conhecimento de transtornos alimentares, deve fazer parte da bagagem cultural e científica dos profissionais de saúde e fazer parte das orientações nutricionais, principalmente aos pacientes de idade mais jovem e com maior perigo de desenvolvimento desses transtornos

 

Referencias:

1-

2-Austin SB, Kim J, Wiecha J, Troped PJ, Feldman HA, Peterson KE. School-Based Overweight Preventive Intervention Lowers Incidence of Disordered Weight-Control Behaviors in Early Adolescent Girls. Arch Pediatr Adolesc Med. 2007;161:865-869.
3-Gortmaker SL, Peterson KE, Wiecha J, et al. Reducing obesity via a school-based interdisciplinary intervention among youth: Planet Health. Arch Pediatr Adolesc Med. 1999;153(4):409-418.

4- Weiss DR, O'Loughlin JL, Platt RW, Paradis G. Five-year predictors of physical activity decline among adults in low-income communities: a prospective study. Int J Behav Nutr Phys Act. 2007;4:2.

5- Ministério da Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Boletim Sisvam. Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Disponível em:
http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/bs_1/bs_pof.php. Acessado em 20 de Novembro de 2007

6-

O paciente com transtornos alimentares, via de regra, utiliza medicamentos relacionados à depressão, ansiedade e demais substancias psicoativas.

 

Sacks FM, et al. Comparison of weight-loss diets with different compositions of fat, protein, and carbohydrates. N Engl J Med. 2009;360(9):859-73.www.nutricaoclinica.com.br Acessado em 26 de Julho de 2009

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